Aves de rapina: características gerais
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Texto de: Willian Menq
As aves de rapina, por serem predadoras, necessitam
de diversas adaptações para a caça ativa, como visão e audição
apuradas, garras e bicos fortes e afiados, etc. Cada espécie é moldada
de acordo com o tipo de presa que captura e ambiente em que vive.
• Visão
A visão dessas aves é incrível, muitas detectam suas presas a grandes distancias. A águia-real (Aquila chrysaetos),
por exemplo, consegue ver uma lebre a mais de 3 km de
distância. Os olhos são voltados para frente, é resultado de uma
adaptação a localização de sua presa, dando noção de distância e
profundidade. Os olhos também são proporcionalmente grandes em
relação à cabeça, apresentando milhares de células da retina
(cones e bastonetes). Nas corujas os olhos são tão grandes que
ficam imóveis dentro de seu crânio, campo visual limitado na
qual é compensado com a excelente capacidade de girar a cabeça a
270º graus devido ao número maior de vértebras cervicais
em relação a outros vertebrados (duas vezes mais que na espécie humana).
Assim como em
outras aves, elas possuem nos olhos uma membrana fina chamada de
membrana nictitante, cuja finalidade é limpar e proteger os
olhos de poeiras em voo, ciscos, etc. As corujas, como são em
grande maioria noturnas, possuem adaptações morfológicas adicionais
para caçar em ambientes com ausência de luz. Os olhos dessas aves
noturnas possuem uma camada de células atrás da retina chamada tapetum,
que reflete a luz sobre as células bastonetes, imprimindo uma segunda
vez a mesma imagem e possibilitando melhor captação de luz. Como
resultado, as corujas possuem uma visão noturna excelente, enxergando de
10 a 100 vezes mais que os humanos.
(B) Membrana nictitante da Harpia. Foto: Willian Menq
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Esquema da visão binocular das aves de rapina |
• Audição
A audição das rapineiras é bem desenvolvida, os
ouvidos estão localizados em cada lado do crânio, próximo aos olhos.
Nas corujas a audição é mais sofisticada, elas possuem grandes
discos faciais que auxilia no direcionamento do som e seu
crânio possui uma grande abertura dos ouvidos, com isso
conseguem detectar facilmente um roedor caminhando entre as
folhagens na mais completa escuridão. Segundo observações
cuidadosas de comportamento, indicaram que as corujas usam dois tipos de
informações em sua resposta de orientação auditiva: a intensidade do
som e o tempo de chega do som em cada ouvido. A intensidade do som é
usada pelas corujas para determinar a elevação do alvo, e o tempo de
chegada do ruído nos ouvidos é usado para determinar a azimute do alvo
(desvio lateral de um ponto diretamente em frente da cabeça da
coruja). As corujas conseguem discriminar a elevação de uma
fonte sonora graças a seus discos faciais, região ao redor das
aberturas dos ouvidos, formada por penas rígidas.
Nos gaviões a
abertura dos ouvidos é posicionada simetricamente em cada lado
da cabeça, já as corujas possuem uma simetria bem pronunciada, a
abertura da direita está dirigida para cima, enquanto que a
abertura esquerda está dirigida para baixo. Este arranjo pode
fornecer a base para a discriminação da elevação através das informações
de intensidade. Os discos faciais em aves de rapina diurnas como dos Micrastur sp, Circus sp e Harpia harpyja provavelmente colabora na detecção de presas, de forma semelhante às corujas.
Face da coruja-preta, os discos faciais auxiliam na detecção de sons. Foto: Beto Vieira
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Esquema do crânio de uma coruja, com destaque a simetria da abertura dos ouvidos. |
• Olfato
As aves possuem um olfato pouco desenvolvido, são
mais dependentes da visão e da audição para encontrar alimento e evitar
perigo. Mas há uma exceção, o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura).
Este urubu possui o olfato muito aguçado, é capaz de detectar a
grandes distâncias o cheiro de animais mortos. Graças à sua capacidade
de vôo e sensibilidade do olfato, costuma ser o primeiro urubu a chegar
na carniça.
• Garras e tarsos
As corujas, gaviões, águias e falcões usam as garras
para caçar ativamente, com força e eficiência bastante diversificadas
dentro dos grupos. O tamanho das garras depende do tipo de presa que a
ave costuma agarrar, águias de grande porte possuem tarsos grossos e
garras grandes, pois capturam animais como macacos, preguiças e
mamíferos terrestres; espécies pescadoras como a Pandion haliaetus possuem
calos ásperos nos dedos, o que as ajuda a segurar peixes
escorregadios. Espécies menores têm garras pequenas, porém mais
afiadas. Falcões e gaviões que caçam aves em voo, além do corpo
musculoso e silhueta adaptada ao voo ágil, possuem dedos longos e garras
finas e afiadas.
O gavião-pernilongo Geranospizia caerulensis possui
pernas bem longas e uma articulação intertarsal mais móvel, capaz até
de se dobrar para trás, sendo especializado na exploração de cavidades.
As corujas possuem seus tarsos emplumados para diminuir o ruído nas
caçadas, e o dedo externo (nº4) pode virar voluntariamente para trás
reforçando o hálux para segurar a presa além de aumentar a superfície
de contato para captura da mesma. O bico e os pés de Daptrius, Ibycter, Milvago e Polyborus são
relativamente fracos quando comparados a outros rapineiros. As patas e
as garras dos urubus não são tão fortes como a das aves de rapina, não
tendo a função de matar ou transportar presas.
O tipo das garras depende do tipo de presa que a ave costuma caçar.
• Bico
O bico curvo, forte e afiado está relacionado ao ato
de dilacerar a pele de suas vítimas, como por exemplo, mamíferos,
lagartos, cobras, etc., alguns falcões costumam usar o bico para matar
suas presas. Falcões pequenos como o quiriquiri (Falco sparverius)
têm bico curto, adequado para comer insetos e pequenos vertebrados.
Grandes águias como a Harpia, possuem bico pesado e extremamente forte,
para arrancar grandes nacos de carne de suas presas. O
gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis) é um especialista em
caramujos, e devido a esse hábito alimentar, apresenta bico longo,
muito fino e curvado, o que permite atingir o interior das conchas de
caramujos. O bico de espécies como as dos gêneros Falco e Harpagus apresenta estruturas similares a dentes que facilitam a dilaceração de presas.
• Penas e o Voo
As penas são constituídas de queratina, o mesmo
material de que são formadas as unhas nos mamíferos. Os zoólogos dividem
as penas da asa das aves em vários grupos. Cada grupo de penas
desempenha uma função importante. As penas de cobertura (coberteiras)
tornam a asa mais grossa na frente e o ar frui mais rápido por cima,
essas penas tem a função de diminuir a aderência da ave com o vento. As
penas de baixo ou “penugem’ são penas macias localizadas perto do
corpo, elas ficam por baixo das penas de contorno e tem função de
manter a ave aquecida. As penas de voo, como o nome diz, auxilia no voo
da ave, as penas da ponta das asas (as primárias) podem se abrir ou
fechar para aumentar ou diminuir a resistência. As penas secundárias se
movem para baixo aumentando a resistência, ou para cima, reduzindo-a.
As penas de voo e
contorno das aves de rapina têm uma grande resistência, elas se
prendem umas às outras por mais de 350.000 ganchos minúsculos, chamados
de bárbulas. As partes da pena que se prendem se chamam bárbulas
inclinadas. Quando as penas estão desalinhadas, a ave umedece o bico
numa glândula situada acima da cauda, onde há óleo, e lubrifica as
bárbulas, colocando-as no lugar. Esse mesmo óleo ajuda a evitar que as
penas se encharquem na chuva. O processo de organização das penas é
chamado de “preening”. As corujas apresentam uma plumagem mais
macia, a estrutura das rêmiges é menos rígida o que possibilita um vôo
silencioso, que não interfere na orientação acústica durante a caça e
não permite a detecção do predador pela presa. Os urubus por serem
carniceiros possuem a cabeça e o pescoço nus, adaptação que dificulta o
acúmulo de restos alimentares nas penas durante a alimentação.
A variação no formato das asas
é, geralmente, relacionada ao habitat e ao tipo de vôo
predominante. Espécies que vivem em ambientes abertos como os gaviões
do gênero Buteo, por exemplo, possuem asas longas e
amplas e caudas de tamanho médio, morfologia ideal para planar por
várias horas gastando o mínimo de energia. Espécies florestais como as
águias-florestais (Morphnus, Harpia, Spizaetus), Micrastur sp e Accipiter sp,
possuem asas curtas porém largas e caudas relativamente grande,
aerodinâmica especializada em vôo ágil e boa manobridade entre às
árvores na floresta. Os Falcões (Falco) são menores e sua
aerodinâmica é especializada a vôos de altas velocidades e para
execução de manobras rápidas, para isso possuem asas longas afiladas e
cauda curta (parecendo um Bumerangue).
Detalhe da pena de
voo de uma coruja, é possivel observar as extremidades serrilhadas,
modificação que garante um voo silencioso.
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O formato das asas geralmente está relacionado ao habitat, modo de caça e forrageio e ao tipo de vôo predominante da espécie.
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O dimorfismo
sexual é predominantemente relacionado ao tamanho (com fêmeas
maiores), sendo bastante pronunciado em espécies do gênero Accipiter e Harpia,
mas pode ser reconhecido através do peso nas outras espécies. A
diferença de coloração entre os sexos ocorre apenas em algumas espécies
como, por exemplo, no Circus buffoni e Falco sparverius.
• Esqueleto e Músculos
Todas as aves possuem ossos pneumáticos, ou seja,
ossos ocos que as tornam mais leves ajudando no voo. Em algumas partes
internas os ossos possuem nervuras para torná-los mais fortes. Os
principais músculos do voo estão ligados ao grande osso peitoral. Esses
músculos peitorais nas aves de rapina representam grande parte da
massa corpórea da ave (correspondem quase a metade do peso da ave), os
músculos que impelem as asas para baixo são muito maiores que os
músculos do que os que movimentam as asas para cima isso porque eles
precisam de mais força para comprimir as asas para baixo, movimento que
vai contra a gravidade e o vento (movimento submetido a uma pressão
maior).
Características gerais das
aves de rapina: Bicos e garras afiadas, fortes e poderosas; visão
binocular, audição apurada e voo poderoso.